Resenha: O Papel de Parede Amarelo de Charlotte Perkins Gilman

21/08/2017

Eu que não tenho um conhecimento profundo sobre o tema, fiquei impressionada com o rendimento de uma escrita sucinta ao expressar os sentimentos "sufocantes" da personagem, aprisionada pelos julgamentos e exigências da época ao sexo feminino, nos provocando uma certa angustia, e que carrega tantos significados nas entrelinhas, proporcionando profundas reflexões, que eu, devido ao motivo já mencionado, só pude consolidar com a ajuda do posfácio- uma análise bastante esclarecedora.

A personagem vive analogias que faz com o papel de parede no quarto em que passa todo o seu tempo, sob instrução do marido que é médico. Confesso que as descrições a esse papel de parede amarelo me deixaram tão cansadas ao imagina-lo, quanto a personagem ao tentar descobrir uma definição para as formas que o constituem. Essas analogias refletem os sentimentos da personagem relacionados a sua situação, que também busca uma definição de si mesma, ao faze-las.

O marido explicava a condição de sua esposa, como sendo uma doença dos nervos, histeria (só aplicava-se ao sexo feminino). Nesse ponto podemos constatar como era tratada e incompreendida, considerada uma afetação, o que hoje é reconhecida como depressão. Tive a sensação de que o marido não queria a melhora da esposa, afim de continuar tendo maior poder e controle sobre suas vidas, que mesmo tratando-a bem, parecendo estar bem-intencionado de acordo com as convicções da época, ridiculizava sua condição e suas opiniões, além de ser ausente.

Impedida de trabalhar, fazer visitas. No quarto, isolada, ela estava impedida até mesmo de escrever afim de sua recuperação, mas que fazia as escondidas para buscar alivio e que passou a ser um esforço. Não apenas os homens, mas toda a sociedade estava submetida a irreflexões, ao pensamento comum, como a sua cunhada que apoiava o irmão e se adequava as convenções da época.

Numa tristeza profunda, qual estava perdendo suas forças, debilitada, lutou e resistiu corajosamente e silenciosamente, contra as oposições de seu marido aos seus prazeres e convicções, contra si mesma para manter sua sanidade, mas que acabou encontrando ilusoriamente, na loucura, sua libertação.

Aos olhos da época a mulher era considerada incapaz, diminuíam-na, de utilidade somente para o lar, suas outras habilidades, competências e considerações eram desvalorizadas, seus prazeres eram reprimidos, destinadas somente a função natural de seu sexo em proveito do lar.

A narrativa desse livro é uma crítica não a mulheres que se dedicam ao lar, mas remete a luta pela liberdade, por um futuro independente e oportunidade de escolha das mulheres que se desvencilham deste caminho, propensas a outras atividades do intelecto. O papel do homem como opressor. Remonta nessa obra resquícios da própria experiencia da autora, que tratou de sua depressão com um médico, que o cita e lhe refere a um personagem do livro; uma mulher que abriu mão da maternidade, por não conseguir conciliar trabalho e família ao se sentir sobrecarregada, por não ser propensa a dotes maternos; uma mulher de espirito livre, independente e autossuficiente; que numa infância carente de carinho, tornou-se uma mulher forte.

É perspicaz o quanto as imposições direcionadas ao sexo feminino da época causavam tanto mal as mulheres, a ponto de deprimi-las e aprisionara-las a uma vida indesejada e reprimida, levando-as a loucura e até mesmo ao suicídio. Pode-se ainda entender o quanto a vida, felicidade e prazeres sexuais da mulher, estavam condicionados e dependiam do casamento.

Me impressiona também, o ano que a história foi escrita (entre 1890 e 1894), o quanto é atemporal, que já em mil oitocentos e bolinhas existiam mulheres, como exemplo a autora e um movimento que contestavam seus direitos, com ideologias transcendentais para a época e que tantos anos se passaram, mas pode-se dizer que pouca coisa mudou. Devemos o que nós mulheres hoje temos de direito conquistados, a precursoras, autoras, como Charlotte Perkins Gilman.

Apesar de toda a riqueza de seu conteúdo, conhecimento e qualidade, não me emocionou ou me empolgou, por isso o avalio com três estrelas e meias (numa escala de cinco estrelas). Numa próxima releitura quem sabe, não estarei mais consciente e direcionada ao tema para poder aproveitar mais e experimentar as sensações de sua escrita. 

Ficha Técnica

Título em Inglês (Original): The Yellow Wallpapper

Autora: Charlotte Perkins Gilman

Categoria: Conto Americano/ Literatura Feminista

Número de áginas: 112

Edição:

Editora: José Olympio/ RJ

Ano de Publicação da Editora: 2016

Primeiro Ano de Publicação do Conto: 1892 pela New England Magazine

Reeditado em: 1920

Publicado Originanalmente em inglês pela Feminist Press/ 1996 NY

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